Nas entrelinhas: Depois de você

quarta-feira, junho 25, 2014

Via tumblr

Eu queria acreditar que você vai ser pra sempre, que vai ser como um daqueles meus bonequinhos bem cuidados que eu deixo no criado mudo pra me sentir segura, que vai me olhar de madrugada e dizer que as coisas vão ficar bem e que foi só um pesadelo. Quero acreditar tanto que me preocupo todos os dias com a possibilidade de jogar minhas pernas pro lado e não ter mais você. O espaço invadido me desacostumou e já não sei mais fazer cama e casa pra um só se não for pra pra nós dois.

Eu entendi o que é dormir mais tranquila, sem o pesar das pálpebras incomodando numa insônia regada a How I Met Your Mother e dois potes de iogurte desnatado – desculpa, o sorvete acabava rápido, então eu regava a solidão com algo mais light pra ver se diminuía o peso dela. Entendi o que é saber de cabeça um número de telefone que não é o seu e que serve tanto pra emergências quanto pra amenidades, porque você me escutaria mesmo se eu quisesse te falar em silêncio, não escutaria?

Você pega na minha mão e eu sinto uma firmeza diferente, uma promessa de que vai ficar por mim e me levar pra andar de bicicleta sem rodinhas segurando o meu banco. Eu sinto vontade de te amar de um jeito que eu só amei no jardim de infância, de um jeito que pede pra empurrar do balanço e te ver sorrindo lá no alto pra depois voltar voando pra mim. Depois de você eu aprendi a amar de um jeito bobo pra caramba. Sem o peso do mundo, sem vermelho na boca, sem sair por aí sendo Hilda ou furacão. Eu aprendi a comer sílabas e degustar palavras porque você me interrompia e me devorava e me fazia ser de um jeito que eu nunca imaginei que seria. Sua.

Eu congelo a queda livre e tento desacelerar pra não te deixar perceber as coisas. Essas coisas todas que a gente esconde pra não se mostrar demais, pra não deixar ninguém ver que o melhor lado é o lado de dentro e que eu me importo com tudo isso. Você me diz pra confiar em você e o problema é que confio, confio e confundo as coisas. Será que ele. Mas acho que é melhor. Talvez eu não devesse. E você me pede pra parar de pensar tanto assim e deixar um espaço na poltrona porque chega a tempo da novela. Porque hoje você compra chocolate pra gente. Porque sim, meu bem.

Te peço paciência e me leva contigo até onde der. Até onde a estrada for boa e você gostar da companhia. Até onde a gente puder rir um do outro e se abraçar no fim do dia sabendo que mesmo que as coisas mudem, a gente teve isso, que a gente ainda vai ter uma camiseta do outro guardado em algum lugar da casa só pra dizer que esqueceu e voltar pra buscar. Promete que mesmo que o tempo passe e a gente passe com ele, você vai ligar pra mim e pra minha mãe nos feriados pra fazer piada com ela. Pra ela continuar dizendo que você é o amor da minha vida agora.

Minha mãe me jura que existe alguma coisa ali. Mas bate tanto medo. E se, e se, e se, e se. E se você me olhar de verdade como ela conta que olha, como ela diz que ele te olha com tanto carinho que o afeto já virou teu cobertor invisível, te admira e sabe que tem a mulher mais incrível do mundo com ele porque ele te enxerga assim, te olha e não te atravessa, estaca os olhos nos teus e tenho certeza das coisas que ele diz porque o corpo todo dele diz. Já percebeu que ele treme e alarga os lábios involuntariamente quando te vê, minha filha? E eu reparo que dessa vez eu vou por mim e a gente vai amar por dois.

Sobre o autor: Daniel Bovolento é um carioca, redator publicitário. Atualiza o Entre Todas as Coisas, escrevendo textos sobre amor, comportamento e cia.

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